quarta-feira, 8 de julho de 2009

AUSÊNCIA




Sede que se faz profunda busca
de não sei quê,
infinita e rabuscada no sentir amoroso
que se queda todo
no lago profundo de você.


Sede que se alastra violenta
no âmago fecundo do meu ser.
Seca-me a boca, queima-me o ventre
racha-me por dentro na ânsia louca
pela terra árida de teu ser.


Sede que se faz presente
naquele que se fez ausente
no tempo tórrido do meu ser.

2 comentários:

entremares disse...

Finalmente
Com uma lentidão propositada, deixou escorregar a caneta por entre os dedos.
Era um tique antigo, sempre gostara de sentir o frio do metal encostado à ponta dos dedos, vá lá saber-se porquê.
Tal como gostava de acariciar as folhas de papel, ainda por escrever. Era sensível à textura, à macieza da encadernação, ao peso dos cadernos e dos blocos de apontamentos. Aliás, guardava religiosamente dezenas de cadernos onde nunca escrevera uma unica letra. Bastava-lhe tê-los, folheá-los de vez em quando, sentir o toque característico de cada um, tão unico e irrepetível como se de uma impressão digital se tratasse.
Olhou de novo para a folha branca. Finalmente.
Muito levagar, encostou a caneta ao papel e escreveu, o mais lentamente que lhe foi possível.

FIM

Pronto, já estava.
Sempre desejara chegar àquela parte, ao desfecho das histórias, ao tempo em que o leitor fecha o livro e se reclina para trás, fechando os olhos e reconstruindo toda a fantasia na sua própria imaginação.
A caneta continuava a rodopiar-lhe por entre os dedos. A tinta ainda não secara no papel e ele ficou a observá-la, a empalidecer gradualmente, perdendo o brilho, até atingir um tom sépia escuro, definitivo.
As canetas de tinta permanente tinham para ele esse prazer duplo; o de escrever e o de permitir prolongar o prazer da escrita. Era quase como que escrever duas vezes, o acto de escrever em si e o poder presenciar a tinta a secar sobre as folhas brancas.
Sorriu ao de leve.
Mudou de página e folheou calmamente todas as páginas do caderno de capa rija que segurava entre as mãos, da ultima para a primeira.
Continuavam todas em branco, sem uma unica letra ou virgula a quebrar a monotonia da cor baça do papel. A unica , as unicas letras em todo o caderno de capa rija eram precisamente aquelas que ele acabara de escrever. FIM
- Pronto – murmurou, enquanto fechava tranquilamente o caderno e o apertava entre os dedos – já está... agora só falta construir uma história para este fim...

Maze disse...

Olá Entremares...

Lentamente
Criei todo o texto mental. Breve escrevo - pensei. As horas, porém, se alongam em dias e a tentação da preguiça atrapalhá-me a vontade e amolece-me os dedos.
Na mesa o papel em branco acusa-me com a caneta em riste.
Olho-a mais uma vez e cedo a tentação parada diante do papel o branco do papel. Simplesmente lhe dou as costas e fecho a porta atrás de mim.

Um eco se alonga: "Orai e vigiai" a tentação da preguiça é grande!



Finalmente
Escrevo o texto que já pronto estava.
A página em branco toma novo aspecto, cria nova cara e se enche de beleza com os pequeninos sinais gráficos, que ora falam de sentimentos ora simplesmente ficam alí a ensimesmar.
Aos poucos a história se firma no tempo e queda-se no espaço d'antes branco, agora pigmentado da tinta que nela coloquei.
Mandei a preguiça embora?
Quase!
Resta-me o consolo de saber que sempre volto a sentir saudade da velha mania escrever.


Feliz com sua visita.
Beijo